sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Educação em direitos humanos: saída contra violência nas escolas

A educação em direitos humanos como estratégia para o enfrentamento da violência nas escolas foi o principal tema da palestra da professora titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Vera Maria Ferrão Candau, na aula inaugural do Curso de Atualização em Enfrentamento da Violência e Defesa de Direitos na Escola, coordenado pelo Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/ENSP). A convidada alertou sobre a cultura da violência, sua complexidade e banalização.

A importância de não separar a violência escolar da violência social foi o primeiro aspecto destacado pela convidada na sua apresentação. Segundo Vera Candau, a violência é uma marca estrutural da história do Brasil, e pode ser observada desde a invasão europeia, passando pela escravidão e pelas relações sociais, nas quais sempre há um grupo dominante. Desestabilizar essas relações não é nada fácil, afirmou.

Ainda de acordo com a professora da PUC, a sociedade tem refletido pouco sobre a cultura da violência que não deve ser tratada apenas como um fenômeno esporádico, pois se traduz em formas de vida. Sujeitos cada vez mais jovens estão se envolvendo nessa rede de violência. Ela já está naturalizada, banalizada e perdeu o impacto, a não ser quando ocorre alguma tragédia. Vivemos um cenário de violência social, apesar das políticas de direitos humanos. Ao comentar a violência escolar, a convidada revelou que as pesquisas se referem às manifestações registradas e, na maioria dos casos, são observadas por meio das ameaças e agressões verbais, das agressões físicas, pelo assédio do narcotráfico, depredações, pichações e discriminações entre os alunos.

Violência social e violência escolar estão relacionadas, mas esta relação não pode ser vista de modo mecanicista e simplista. Estamos falando de um fenômeno complexo, multicausal, com dimensões estruturais e culturais variadas. Também não podemos deixar de falar que a própria escola produz violência. A violência nas escolas é reflexo da violência na sociedade sim, mas ela também a produz quando nega o saber da criança e não leva em consideração o seu contexto.

Vera Candau disse que a escola deve resgatar o aluno como um sujeito de direitos, por meio de mecanismos de participação e diálogo, além de rever sua relação com a família do estudante. Em geral, a família da criança só é chamada quando há problema. Os pais não participam de maneira ativa do cotidiano dos filhos na escola, que também deve reinventar seus espaços. A professora defendeu a tese de que a educação em direitos humanos é a forma mais eficaz para enfrentar essa forma de violência nas escolas.

A educação em direitos humanos é compreendida como um processo sistemático e multidimensional que orienta a formação do sujeito de direitos e articula algumas dimensões, como a apreensão de conhecimentos historicamente construídos sobre direitos humanos e a sua relação com os contextos internacional, nacional e local; a afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expressem a cultura dos direitos humanos em todos os espaços da sociedade; a formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer presente nos níveis cognitivo, social, ético e político; o desenvolvimento de processos metodológicos participativos e de construção coletiva, utilizando linguagens e materiais didáticos contextualizados; e o fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem ações e instrumentos a favor da promoção, da proteção e da defesa dos direitos humanos, bem como da reparação das violações, finalizou.

Disponível em: http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/materia/detalhe/21960

Kelly Cristina Lopes de Lemos, 13212080167

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